A precariedade da infraestrutura de transportes
é um grave obstáculo à competitividade da indústria nacional. O cenário
de deterioração desarticula a produção, eleva os custos e prejudica o
desempenho dos produtos brasileiros, tanto aqui como no exterior.
Segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), nosso sistema logístico
põe o Brasil em último lugar num ranking de 14 países com nível de
desenvolvimento parecido. Essa debilidade influencia as decisões dos
empresários, que resistem em investir por não terem certeza de que
poderão distribuir suas mercadorias a preços competitivos.
O país precisa de um programa maciço de
investimentos para entrar em trajetória de crescimento sustentado. A
baixa eficiência na movimentação de cargas compromete o esforço de
adequação do setor produtivo aos padrões internacionais de concorrência e
qualidade. Temos que destravar os nós que impedem um desempenho mais
vigoroso, sólido e duradouro da economia.
O Brasil necessita de um choque de competitividade, que só virá com um
ataque frontal às carências crônicas que tanto nos atrapalham.
Em apoio aos esforços do governo para reduzir o deficit na infraestrutura brasileira, a CNI e as federações estaduais de indústria têm investido no planejamento do transporte
de mercadorias. Uma logística eficiente, que envolva todos os meios, é
uma das mais importantes demandas do setor produtivo. Para suprir essa
falta, preparamos os Projetos Regionais Competitivos, estudos que
priorizam eixos logísticos das regiões Norte, Sul e Nordeste — o projeto
para o Centro-Oeste está em elaboração.
As ações têm como objetivo montar um planejamento estratégico para a infraestrutura de transporte
de cargas no país, selecionando os sistemas de menor custo voltados
para o mercado interno e externo. Após a análise de 52 cadeias
produtivas, vimos que a concretização de 205 projetos prioritários seria
capaz de gerar uma redução anual nos custos logísticos de R$ 13,1
bilhões. Eles envolvem investimentos de R$ 55,1 bilhões até 2020. A
conclusão dessas obras traria um retorno suficiente para arcar com os
próprios orçamentos em apenas 4,2 anos.
O Nordeste apresentou maior necessidade de recursos para a recuperação da infraestrutura
viária por causa do seu elevado grau de deterioração. Nessa região, os
investimentos se concentram nos setores ferroviário e portuário. Esses
dois segmentos, que reúnem 68 dos 83 projetos prioritários, representam
90% dos recursos estimados. As obras preferenciais somam R$ 25,8 bilhões
— merecem destaque a Hidrovia São Francisco, as BRs 020 e 116, a
Ferrovia Transnordestina e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste.
Na Região Norte, diversas modalidades de transporte
apresentam carências e oportunidades de investimento. No entanto, a
hidroviária, por seu elevado potencial, exige mais atenção. As vias
navegáveis interiores estão subutilizadas. As hidrovias dos rios
Juruena, Tapajós e Teles Pires, assim como seus portos,
são importantes exemplos e apresentam retorno social do investimento em
cerca de dois anos. No Norte, foram priorizados 71 projetos, que
totalizam recursos necessários de R$ 14,1 bilhões até 2020.
A Região Sul também precisa de obras
urgentes. Em algumas rodovias, como o trecho da BR-116 que liga Curitiba
a São Paulo, a utilização já está acima da capacidade limite, o que
mostra o esgotamento da estrutura atual. Outro destaque é a ligação de
Buenos Aires a São Paulo, a via São Borja (BR-285 e BR-153), que teria
retorno social do investimento inferior a um ano. No Sul, serão
necessários R$ 15,2 bilhões para a execução dos 51 projetos
prioritários, com retorno médio de 4,5 anos.
O que atrapalha a concretização dos
planos são a burocracia, a baixa qualidade técnica de alguns projetos,
os atrasos infindáveis e a necessidade de mais clareza nas regras do
jogo. O governo tem se mostrado sensível, tomando medidas práticas de
modernização da infraestrutura
nacional. São exemplos: a criação da Empresa de Planejamento e
Logística (EPL); o lançamento do Programa de Investimentos em Logística
(PIL), que trouxe um ousado plano de concessões de trechos ferroviários e
rodoviários; e a Medida Provisória nº 595, que reescreveu a Lei dos Portos.
A planificação e a priorização das ações são decisivas para reverter as deficiências de infraestrutura. Investimentos em transportes
demandam longos períodos de construção e de desembaraço burocrático.
Precisam ser estruturados com antecedência de 20 a 30 anos. Sem
equacionar esse problema de forma adequada, não seremos plenamente
competitivos. Sem competitividade, não há desenvolvimento.
Por: Robson Braga de Andrade
Correio Braziliense - Empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)