Rio de Janeiro – Uma logística de mercado mais avançada faz
com que o shale gas (gás de xisto) explorado nos Estados Unidos tenha um
custo menor para a indústria norte-americana na comparação com o custo
do gás natural para a indústria brasileira.
A avaliação é do
diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia
(Cerne), economista Jean-Paul Prates, em entrevista à Agência Brasil, ao
comentar estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
(Firjan) sobre o custo do gás no Brasil e nos Estudos Unidos.
“Existe um preço de mercado que é reflexo não
apenas de uma estrutura de produção já muito desenvolvida, que o Brasil
proporcionalmente também já dispõe, mas de uma outra coisa que o Brasil
não dispõe, que é uma logística de coleta, de mercado de gás, que o país
nunca chegou a desenvolver”. Isso significa que mesmo antes do gás de
xisto, o valor do gás americano sempre foi mais baixo em função da
logística de coleta, de transporte (gasodutos) e, finalmente, do sistema
de distribuição, que são lastreados em regras claras, o que torna a
indústria americana competitiva, informou Prates.
“Toda essa estrutura está montada e recebe investimentos
regulares de vários agentes”. Essa estrutura pressupõe um monopólio
natural, que é altamente regulado, disse o economista. Segundo o
diretor-geral do Cerne, a estrutura de gás no Brasil tem um único
agente, que é a Petrobras. “O setor sofre pouca intervenção da parte do
governo em termos regulatórios”, observou.
Em relação aos elevados tributos cobrados no Brasil, Jean-Paul
Prates indicou que uma eventual modificação do cenário depende de uma
política setorial de governo que passe a considerar o gás como um insumo
valioso para o país. Ele entende que faz parte da política brasileira
racionalizar a demanda de gás natural, porque ele não é abundante. “O
Brasil anda na corda bamba no consumo de gás, que é muito maior que a
disponibilidade que ele tem hoje”, avaliou. Segundo ele, ainda há um
espaço de três a cinco anos para a entrada no mercado do gás extraído do
pré-sal.
O Brasil, de acordo com Prates, ainda não produz gás de
xisto. Há intenção do governo, porém, de entrar nessa área para
diversificar e ampliar a matriz energética brasileira. Embora vislumbre
que haverá muita discussão sobre o assunto internamente, do ponto de
vista ambiental, o economista defende que o país “precisa viver essa
experiência”. A primeira licitação da Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) em áreas de xisto está prevista para
outubro deste ano.
O diretor-geral do Cerne ressaltou que a indústria do xisto
norte-americana está vivendo um momento de revitalização. O xisto
significa para os Estados Unidos uma saída para a importação de gás do
México ou do Canadá. A política atual é voltada para dentro do
território, buscando o desenvolvimento de soluções caseiras. A produção
de xisto, entretanto, traz consequências. Devido ao fracionamento do
subsolo, “provoca em alguns lugares contaminação do lençol freático,
alterações do subsolo que até hoje são pouco estudadas”.
A produção de gás de xisto é recomendada no Brasil em algumas
áreas. Prates acredita, contudo, que isso não ocorrerá de forma tão
rápida como foi nos Estados Unidos, onde “já existe uma cultura de
convivência com esse antagonismo entre comunidades, fazendeiros e a
indústria do petróleo”. Indicou que em locais como Minas Gerais, na
região do São Francisco; no interior de São Paulo; ou na Bacia do
Paraná, onde há potencial de xisto, o primeiro momento será de euforia
ante a possibilidade de prosperidade. Em seguida, haverá a contra
reação, com o movimento de ambientalistas, estimou.
Segundo Prates, a Petrobras já tem alguma experiência na área de
xisto no Paraná. Mas avalia que isso não representa uma salvação para o
mercado de gás brasileiro de curto prazo. O processo de xisto deverá
levar entre cinco e dez anos no Brasil para mostrar uma produção
significativa. “O que eu acho que vai salvar [o mercado] e já está
indicado nos planos de investimento da Petrobras e no próprio perfil de
produção do país como um todo, é o gás do pré-sal. Este entra primeiro
[que o xisto] e com volumes mais altos”. A perspectiva, de acordo com
ele, é que nos próximos dois a três anos o gás do pré-sal entre no
mercado com mais força e amenize o problema de demanda reprimida do gás
no Brasil.
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