Do garimpo à logística reversa:
Sem logística
reversa, hoje, um país não faz projetos a longo prazo. Para chegar lá,
organização empresarial é estratégica.
Até
1994, o Brasil não produzia celular; hoje, são mais de 190 milhões. Também não
produzia computador; entram hoje no mercado 14 milhões de novas unidades ao
ano. Todos eles duram pouco nas mãos do usuário, já que o homem virou um grande
consumista, que venera novas compras. O pior é que, após o consumo, só 1% dos
celulares e menos de 5% dos computadores retornam aos fabricantes brasileiros.
Sem valor agregado, acabam no lixo comum ou em locais impróprios.
No
Brasil, estima-se que apenas 6% do que se fabrica retorna à cadeia produtiva
por ter valor agregado - caso das baterias de automóveis e do alumínio, por
exemplo. Ainda que baixo esse percentual de logística reversa dos produtos
nacionais movimenta até 10 bilhões de reais por ano, grande parte devido a
produtos que ainda não foram consumidos e uma pequena parcela de produtos
usados.
A
Política Nacional de Resíduos Sólidos chega agora ao país atribuindo a todo o
elo da cadeia produtiva a responsabilidade compartilhada pela destinação dos
produtos usados, agora denominados resíduos sólidos, diferenciando-os dos
rejeitos. A obrigatoriedade da medida dá a largada para que se explore o
potencial de retorno intrínseco a alguns produtos e suas embalagens, como
também para que empresas se organizem setorialmente para arcar com os custos do
sistema.
Apenas 6% do que se fabrica retorna à cadeia produtiva brasileira
por ter valor agregado. Ainda que baixo percentual movimenta até 10 bilhões de
reais por ano
Afinal,
logística reversa é cara. Quando o valor agregado não é bom, a conta não vai
equilibrar nunca. Embora varie muito de um produto a outro, a recuperação de
valor dos componentes e materiais constituintes desses produtos não representa,
via de regra, mais do que 30% do custo total da logística reversa de
pós-consumo. Quanto mais empresas no pool, menor será o ônus individual.
Nesse
processo, o Brasil tem muito a aprender. A lição principal é a de adaptar
modelos já testados que integrem os elos da cadeia. Na nossa realidade, além
dos setores produtivos, isso inclui o catador, que hoje vive na informalidade,
em condições inóspitas, sem garantias sociais. Com a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, o catador será incluído no sistema formal. Para estar ali,
precisará reeducar o olhar e reaprender a trabalhar. A triagem que ele faz hoje
deixa a desejar do ponto de vista da logística reversa. Ele garimpa ferro,
papelão e metais. O resto, sem valor de venda, ele deixa para trás. São
milhares de pessoas disputando os mesmos produtos e preterindo toneladas de
objetos que precisam ser recuperados.
Para
reaproveitar todo esse novo volume, o mercado deverá superar certos
preconceitos sociais e industriais quanto ao consumo. Matéria-prima reciclada
ou mesmo motor manufaturado não têm necessariamente baixa qualidade, como o
senso comum insiste em dizer. Poderão ter certificações, comprovação de
qualidade, excelência de performance. Outro preconceito a combater é aquele que
diz que o cidadão não contribui na devolução dos produtos. É necessário
oferecer condições logísticas adequadas a ele e incluir o comércio local na
solução.
Setores
produtivos precisam conversar mais, do fabricante ao varejo, trabalhar junto
para achar caminhos e, claro, estimular o consumidor. Sem envolvimento e
organização empresarial, não há logística reversa que funcione. E sem logística
reversa, hoje, um país não faz projetos a longo prazo.
Fonte:
Paulo Roberto Leite. Presidente
do Conselho de Logística Reversa do Brasil (CLRB)
Enviado Pelo Consultor: Daniel Ponciano
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